Esta edição deste Fórum ED foi subordinada à temática: “Processos de aprendizagem sobre o mundo e sobre nós à luz da Educação para o Desenvolvimento” e teve como ponto de partida a questão central: Como interrogar o mundo e interrogarmo-nos a nós próprios a partir da ED em tempo de crises e de grandes transformações?
Este contou com a presença de uma panóplia de especialistas nas mais diversas áreas, proporcionando, dessa forma, um debate e partilha de conhecimentos de enorme riqueza para todos os participantes.
Ao longo do dia foram várias as intervenções que reforçaram a importância da cooperação e o papel da educação para a mudança para uma sociedade melhor e mais justa e, como referiu Francisco André, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, apenas com envolvimento e esforços de todos conseguiremos promover ações de qualidade nesta área. Por sua vez, Mónica Ferro, diretora do Escritório do Fundo das Nações Unidas para a População, referiu que as estratégias de ED têm de abalar preconceitos, estereótipos, e só assim será possível dar o salto para a mudança que todos almejamos.
A 1ªSessão do dia teve como temática “Refletindo e Agindo em tempos de grandes transformações” e contou com a intervenientes: Sinan Eden (Climáximo), Paula Duarte Lopes (Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra), Mónica Ferro (Fundo das Nações Unidas para a População) e Sara de Melo Rocha (CNN Portugal), tendo esta última, desempenhado o papel de moderadora.
Ideias-chave:
- -As mulheres continuam a ser um grupo bastante vulnerável e é necessário que os planos de desenvolvimento, para além de referirem a igualdade de género, aloquem recursos nesse sentido;
- -O primeiro passo de Educação para a paz é perceber o que a mesma significa nas várias sociedades;
- -O poder de transformação da educação é essencial, devem criar-se condições favoráveis à proliferação dessas “sementes”;
- -Apesar de estarmos no séc.XXI, continuamos a utilizar mecanismos e formas de intervenção, bem como valores, do séc XX;
- -Apesar de pequenas, as melhorias em várias vertentes ligadas ao desenvolvimento, são um indicador positivo de que estamos a caminhar na direção certa;
- -É importante que todos nós tomemos uma posição ativa na luta pela mudança, todos os intervenientes da sociedade civil contam, de realçar que as ONG’s têm desempenhado um papel de destaque no preenchimento de lacunas onde outros atores muitas vezes não conseguem chegar como a ONU.
A 2ªSessão iniciou-se pelas 11:45h e focou-se no tema “Refletindo e agindo em tempos de crises” e contou com a moderação de Bárbara Wong (Público), estiveram, ainda, envolvidos no debate: André Costa Jorge (Plataforma de Apoio aos Refugiados), Lina Coelho (Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra), Lucília Salgado (Associação Portuguesa para a Cultura e Educação Permanente).
Ideias-chave:
- -Os migrantes, para além de enfrentarem a barreira de aprenderem a língua portuguesa, são, ainda, prejudicados na dimensão do reconhecimento das suas qualificações, o acesso à habitação é quase impossível, quem vai ser fiador dessas pessoas?
- -É necessária a criação de uma nova abordagem relativamente aos alunos que vêm de Erasmus, muitos deles têm dificuldade em obter o visto, fruto disso chegam tarde e não apanham grande parte da matéria o que se traduz, muitas vezes, no seu insucesso escolar e, por conseguinte, na perda de bolsas de estudo. Sugestão: Ano 0 de adaptação;
- -Do ponto de vista legislativo, Portugal é, por vezes, o povo ideal. Contudo, em termos práticos ficamos muito aquém, apesar de um país pequeno, não conseguimos replicar as boas práticas;
- -Transformação cibernética crucial nos dias em que vivemos, as redes sociais devolvem-nos aquilo que nós somos, corremos o risco da autodestruição;
- -Falta-nos falar com o outro, os professores são vistos como números e o sistema diz-nos que não importa onde são colocados. Devemos adotar uma metodologia mais personalizada de forma a otimizar recursos;
- -O grande desafio é olhar para as crianças que estão nas escolas. As escolas têm de mudar a sua estrutura para se adaptarem. A gestão das escolas é fundamental.
André Costa Jorge, membro da PAR - Plataforma de Apoio aos Refugiados, reforçou necessidade de associar educação e migração, o que implica pensar de um modo mais integrado, dando como exemplo a necessidade de adequar manuais escolares para que estes possam permitir a integração das crianças e jovens migrantes.
Lina Coelho, Professora Auxiliar na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, frisou os desafios da linguagem e da língua portuguesa em particular, que em algumas situações se apresenta como uma verdadeira barreira e intensifica as desigualdades e a justiça social, mesmo para as pessoas vindas dos PALOP, que muitas vezes dominam outras línguas ao invés do português. Neste sentido, a cooperação e a educação para o desenvolvimento devem focar-se sobretudo na ajuda as pessoas, na perspectiva da ajuda aos seus países de origem. Por fim, com a referência a que há escolas que trabalham muito bem, mas também há outras onde não de faz nada, reforçou que tudo isto é muito efémero porque tudo depende das dinâmicas de cada pessoa, neste caso de professores e professoras, sendo que o sucesso escolar decorre dos modelos que as crianças têm e que são definidas pelas expectativas das pessoas adultas à sua volta.
Pelas 14:30h, deu-se início à 3ª e última Sessão com a temática “Refletindo e agindo em tempo de complexidade e interdependências”. Esta contou com a participação de Francisco Sena Santos (RTP/Antena 1) como moderador e Rogério Roque Amaro (ISCTE-IUL e Pluriversidade Comunitária), Sandra Monteiro (Le Monde diplomatique), Jorge Cardoso (Centro Social Paroquial de Aveiras de Cima) e La Salete Coelho (Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto e Instituto Politécnico de Viana do Castelo) como oradores.
Ideias-chave:
- -Devemos olhar para o mundo como um todo e não apenas aquilo que está mais perto de nós, a guerra na Ucrânia é muito importante, contudo, não é o único espaço geográfico em que estão a decorrer conflitos armados;
- - A diversidade local, apesar de ser extremamente rica, não vê o seu valor reconhecido nas Universidades;
- -As agendas sociais mudaram, as pessoas não querem apenas ensinar as gerações futuras a saber ler datas ou conseguir fazer contas, querem formar pessoas para um mundo melhor;
- -Pluriversidade, o local permite-nos definir o global que, por sua vez, nos vai fazer repensar o local;
- -Dar espaço a que as complexidades possam ter respostas em comum, esta solidariedade e o dar espaço a outros é fundamental;
- -Proposta face à não implementação total/parcial de planos de desenvolvimento: “Ou se garantem fundos que mantenham a sustentabilidade, ou se reduz as horas de trabalho para que todos possamos fazer voluntariado”. - Sandra Monteiro
Para além da importância de pensar sob o ponto de vista do outro, da transformação cibernética, foi referida a falta de respostas ao nível da saúde mental, da falta de financiamento para a educação para o desenvolvimento e para o trabalho que as associações, as quais apresentam um papel crucial nos processos de aprendizagem e na preparação de jovens. A este propósito, foi destacada pela maioria das intervenções, a necessidade de aumentar o financiamento da educação para o desenvolvimento em Portugal.
Sandra Monteiro, Le Monde Diplomatique, fez referência à importância de refletirmos sobre os conceitos - ideologia da complexidade - pois não existe um local e um global, há vários locais e globais.
Rogério Roque Amaro, ISCTE-IUL e Pluriversidade Comunitária Local e Global, apresentou o conceito da Pluriversidade Comunitária que é um ponto de chegada, mas também um ponto de partida para a Solidariedade, que construiu a partir da conjugação do saber que encontra nas relações afetivas e que foi encontrando nas diversidades locais que não eram tidos em conta na universidade. I verdade
No que respeita à construção da Pluriversidade, Roque Amaro fez referência à criação do primeiro grupo comunitário de Lisboa, há 30 anos, tendo convidado Ana Bragança a dar o seu testemunho, uma vez que e agora uma das pessoas que integra um destes grupos.
Ana Braganca partilhou a sua experiência no mais recente grupo comunitário criado em abril último, no Bairro de Campolide, que está a contar com a colaboração do grupo de moradores e que nasceu a partir da experiência da agro-floresta Bela Flor, reforçando que a floresta não teria os problemas que tem se fosse pensada com os locais.
Na Pluriversidade põe-se em prática a diversidade de saberes, onde todas e todos são aprendentes e partilham experiências, sendo o espaço público um espaço de democracia, no qual as assembleias comunitárias ganham relevo e associadas às assembleias municipais se assumem como alternativa para resolver problemas locais.
La Salete Coelho, Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto e Instituto Politécnico de Viana do Castelo, chamou à atenção para que os tempos são urgentes e focou a importância de abrandarmos para refletir, para que possamos assim aprender à luz de ED e aprender para um mundo de melhor. Recordado Oscar Jára, a investigadora destacou ainda que temos que viver numa procura constante, sendo fundamental que todos e todas tenhamos consciência da nossa forma de vida - é preciso compromisso para incorporarmos outras molduras, e neste quadro a Educação para o Desenvolvimento pode-nos ajudar a ter outras visões.
Começando por se questionar como se aprende para a incerteza, Jorge Cardoso, Centro Social Paroquial de Aveiras de Cima, destacou o que não é aprender a luz de ED:
- - Não é aprendizagem sem sentido, sem ter resposta ao para quê
- - Não se aprende por magia (grandes causas, grandes experiências e grandes receitas)
- - Não se aprende pela culpabilidade/ educa
- - Não se aprende quando tudo fica demasiado pesado - sem esperança não há aprendizagem, não há crença
- - Não simplificar muito e ser demasiado simplista - a complexidade deve ser amiga e companheira do processo de aprendizagem
Não se aprende ED num registo individual… a força do coletivo e do contexto e fundamental Neste painel foi uma vez mais destaca a necessidade e importância da educação não formal e da necessidade da educação ser transformada a luz de ED, pois os processos pedagógicos devem ser repensado da luz da solidariedade, diversidade, riqueza - acreditar no valor da educação, cujo paradigma deverá ser assente no Ambiente - pessoas e solidariedade, na Fraternidade, ao invés de liberdade, na parodoxia e na economia do futuro, dando como exemplo o pastoreio comunitário. É preciso alargar o escopo da ED, mas sem que isso ponha em causa o trabalho que já é realizado a este nível.
Ana Patrícia Fonseca , presidente da Plataforma Portuguesa das ONGD, reforçou que os desafios globais só podem ser enfrentados numa parceria genuína, sendo que continuamos a assistir a uma multiplicidade de desafios. Torna-se necessário priorizar o fortalecimento da Educação para o desenvolvimento para tornar real um mundo justo, para todas as pessoas em todos os lugares.
Para Animar é necessário refletir para que seja possível promover a Educação para o Desenvolvimento, por forma a garantir a inclusão das crianças e jovens migrantes e assim garantir a igualdade no acesso à educação.
O Fórum ED é uma ação transversal no âmbito da Estratégia Nacional de Educação para o Desenvolvimento 2018-2022 (ENED 2018-2022), promovido pela Comissão de Acompanhamento da ENED 2018-2022 – composta pelo Camões -Instituto da Cooperação e da Língua, pela Direção-Geral da Educação, pelo CIDAC - Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral e pela Plataforma das Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento – com o apoio das demais entidades subscritoras do Plano de Ação da referida ENED.